INTRODUÇÃO
No dia 21 de março de 2025 assinalou-se um ano desde que foi reconhecido, pela tutela, o legítimo direito dos professores à recuperação integral do tempo de serviço congelado. Com o objetivo de avaliar a efetiva implementação desta medida — e após termos realizado um questionário sobre este mesmo tema no início do ano letivo consideramos que chegou o momento de perceber até que ponto essa decisão está, de facto, a ser cumprida.
Com esse propósito, realizámos um questionário nacional dirigido a todos os professores, com o intuito de aferir o estado atual do processo e compreender o impacto desta medida na vida profissional dos docentes. A amostra recolhida é composta por 1502 participações, distribuídas por diversos grupos de recrutamento e diferentes regiões de Portugal continental.
O questionário foi disponibilizado entre os dias 21 de março e 1 de junho de 2025, e os resultados obtidos foram analisados com o objetivo de fornecer uma visão abrangente sobre a situação atual dos professores em relação à recuperação do tempo de serviço congelado.
Os resultados deste questionário são apresentados de forma agregada, garantindo a confidencialidade e anonimato dos participantes. Agradecemos a todos os professores que participaram e contribuíram para esta análise.
Para mais informações sobre o metaPROF e outros questionários, visite metaPROF.pt.
CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
1502
32
82
49
PARTICIPAÇÃO E ABRANGÊNCIA
Distribuição Geográfica da Participação
A participação está distribuída por diferentes realidades regionais, com destaque para áreas urbanas como Setúbal, Lisboa e Porto.
Participação por Municípios
- Setúbal 59
- Lisboa 57
- Porto 25
- Braga 25
- Viana do Castelo 21
- Loures 17
- Aveiro 15
- Almada 14
- Sintra 13
- Beja 13
RESULTADOS GLOBAIS
Recuperação dos 25% do Tempo de Serviço Congelado - maio 2025
Conclusão: A maioria dos docentes não recuperou, ou recuperou apenas parcialmente os 25% de tempo de serviço congelado.
Grau de Informação sobre o Processo de Recuperação
Conclusão: Há uma elevada taxa de desinformação ou conhecimento parcial do processo.
Perceção de Justiça do Processo
Conclusão: A perceção dominante é de que o processo não é justo.
Impacto na Motivação Profissional
Conclusão: Para quase metade dos docentes, o processo tem impacto negativo na motivação.
Influência na Permanência na Profissão
Conclusão: Embora a maioria não relacione diretamente com a permanência na profissão, cerca de 1 em cada 3 admite que poderá influenciar a sua decisão.
Perceção de Equidade no País
Conclusão: Existe uma perceção quase generalizada de que o processo não é equitativo a nível nacional.
Noção do Tempo de Serviço Congelado
Conclusão: Apesar da desinformação sobre o processo, a maioria sabe quanto tempo de serviço está congelado.
COMENTÁRIOS RECOLHIDOS Análise de Sentimento
Foram analisados810 comentários partilhados pelos professores neste questionário. O sentimento predominante é extremamente negativo, refletindo críticas à gestão do processo, injustiças estruturais e elevado desgaste emocional.
- Raiva e Revolta
- "injustiça", "roubo", "vergonha", "humilhação", "falta de respeito"
- "Muito injusto para os docentes do 9º escalão! Também estiveram congelados... enfim é o país que temos!"
- "Sinto-me duplamente roubada"
- "É vergonhoso que passados 9 meses ainda não esteja a receber!"
- Frustração com a Burocracia
- Críticas à lentidão do IGeFE, desorganização das secretarias escolares e falta de transparência.
- "As secretarias trabalham lentamente e não têm interesse [...] Dão prioridade a "outros interesses instalados...".
- Desespero e Desmotivação
- "Estou farta e vou deixar a docência".
- "Estamos nas mãos de gente teimosa e incompetente".
- Injustiça Sistémica
- "Estou no 10º escalão. 40 anos de serviço. E que tal pensar em nós?".
- "Os contratados foram esquecidos [...] não somos menos professores".
- Desigualdades Regionais
- "Na Madeira, o tempo de serviço prestado no continente vale 0".
- Ultrapassagens Salariais
- "Tenho 25 anos de serviço e há colegas com menos tempo à minha frente".
- Alívio Parcial
- "Finalmente foi possível recuperar o tempo [...] mas só em abril, quando devia ter sido em setembro".
- Reconhecimento de Avanços Tímidos
- "Foi uma solução equilibrada perante a possibilidade de perder tudo" (mesmo com críticas à operacionalização).
- Desconfiança Institucional
- Acusações de "caos planeado" pelo governo para evitar pagamentos: "Este caos é uma estratégia para não pagar a todos".
- Sindicatos criticados por inação: "Os sindicatos pouco ou nada fazem!".
- Impacto na Identidade Profissional
- Sentimento de desvalorização e abandono: "Somos tratados como mendigos do nosso próprio direito".
Distribuição dos Sentimentos nos Comentários
Sentimento | Frequência | Exemplos-Chave |
---|---|---|
Raiva/Revolta | 70% | "Injustiça", "vergonha", "roubo" |
Frustração | 20% | Lentidão do IGeFE, erros das secretarias |
Desespero | 10% | "Vou deixar a docência", "sinto-me humilhada" |
Neutro/Positivo | 5% | Reconhecimento parcial de avanços (com ressalvas) |
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste questionário revelaram três eixos fundamentais que servem como base para uma análise aprofundada:
Participação e Abrangência
O questionário contou com a participação de 1502 professores, de diversas regiões e agrupamentos escolares, o que traduz a relevância do tema em apreço, bem como o interesse colectivo em relação ao dossier da recuperação de tempo de serviço.
Resultados Principais
Os dados são bastante reveladores: 55% dos docentes inquiridos afirmam não terem recuperado os 25% do tempo de serviço (que deveria ter sido recuperado em setembro de 2024), previstos no acordo celebrado entre o Ministério da Educação e as organizações sindicais.
O baixo índice de respostas positivas (29%), que está próximo das respostas inconclusivas (8%), traduz a reduzida implementação e efetividade das medidas anunciadas. A ausência de respostas céleres e a gravosa falha no cumprimento dos compromissos assumidos, expõem a debilidade do processo, pelo que se impõe a adopção de medidas concretas e consequentes, que respeitem as expectativas e direitos dos professores.
Implicações e Recomendações
Perante este quadro, o Ministério da Educação tem optado por desvalorizar da gravidade da situação, recorrendo a dados e alegações que, para além de não traduzirem a realidade vivenciada pelos docentes nas suas escolas, comprometem a efetividade, a credibilidade e a equidade do processo da devolução. Foram apontadas inúmeras falhas e ocorrências, nomeadamente:
- Registos biográficos incompletos;
- Discrepâncias entre dados lançados em diversas plataformas digitais;
- Escassez de recursos administrativos;
- sistemas de informação desatualizados e frequentemente inoperacionais.
No sentido de restaurar a credibilidade do processo, bem como o respeito pelos profissionais envolvidos, propõe-se a adopção de medidas concretas que permitam dirimir os problemas:
- A correção urgente de registos e dados biográficos, garantindo precisão e transparência;
- A melhoria dos processos administrativos e da formação dos responsáveis;
- A comunicação clara e objetiva com os professores, definindo prazos concretos para a resolução dos problemas.
- Auditoria independente ao processo de recuperação, liderada pela Inspeção-Geral da Educação (IGEC)
- Critérios uniformizados com divulgação pública de métricas por região.
- Aceleração do cronograma de recuperação para docentes com >15 anos de serviço.
Prioridade Absoluta:
Garantir que, até final de julho de 2025, 100% dos professores tenham recuperado os 25% do tempo congelado, com mecanismos de compensação para os atrasos verificados.
REFERÊNCIAS
"Nova proposta de recuperação do tempo de serviço congelado dos professores. Governo apresenta nova proposta com calendário que acelera a recuperação do tempo de serviço dos professores, sendo recuperados 50% até 01 de setembro de 2025."
"O Governo propõe reconhecer aos docentes 25% em 2024 e 25% em 2025. Em 2026, será reconhecido
20% do
tempo de serviço congelado e os restantes 30% serão repartidos em duas tranches de 15% em 2027 e
2028. A reposição terá sempre efeitos a 01 de setembro de cada ano."
13 maio 2024 www.portugal.gov.pt
"FNE assina acordo para recuperação total do tempo de serviço congelado aos professores
De acordo com Pedro Barreiros, Secretário-Geral da FNE, a recuperação será, assim, concretizada em 2
anos e 10 meses, tendo os professores recuperado a totalidade do tempo de serviço no dia 1 de julho
de 2027."
21 maio 2024 www.fne.pt
FAQ sobre a recuperação do tempo de serviço (Fenprof)
29 maio 2024 www.fenprof.pt
Relatório do Inquérito sobre a RITS, realizado pela metaprof.pt em outrubro de 2024
outubro de 2024 www.metaprof.pt